domingo, 9 de novembro de 2008

Entre as mãos tenho este novelo, não como dantes, no princípio, esquecido agora, um pequeno nó prendia a ponta ao ponto de partida, desenrolar mais um pouco era um passo em frente, em direcção ao futuro, sempre claro, sempre vazio. Depois, depois, será que existiu um antes, ou será o depois o esquecimento rotineiro do ontem, sei que a certa altura corria sem olhar para trás e passava pelo tudo que nada era como se partisse para sempre, para um sitio distante, uma terra sem sombras e onde as unicas pegadas, as minhas, não mais que segundos perduravam no solo. Ao chegar tiro do bolso este novelo, que agora tenho entre as mãos, a minha vida enleada numa imensidão de nós, escondida é pressa por entres a fuga á vida que nunca consegui viver.
Aqui, agora, tudo é novo, a minha sombra voltou, e desenha no chão uma mancha disforme, um ser esquisito, entre as mãos aquilo que parece ser um desperdicio de fios de lã. Agora ao caminhar vejo as minhas pegadas no chão e com elas muitas outras, tenho medo, e as lagrimas inundam os meus olhos, como vi aqui parar. Sem perceber porque procuro por uma das pontas, lá bem no centro, deste novelo que agora seguro entre as mãos, encontro uma delas e faço um nó para a segurar ali na nova etapa, na nova oportunidade. Começo a andar e pouco tempo depois tenho nas mãos o primeiro nó, o primeiro vestigio do que foi e deixou nele a sua marca, o facto desapareceu mas a ferida continua aqui à espera de ser desatada, de repente percebo que não é possivel, que tudo o que está aqui neste fio de lã, que agora volto a desenrolar, estás para sempre, como a marca que um objecto afiado deixa na pele.
Não percebo o porque, sou uma imagem ridicula de algo que poderia ser, um sonho esquecido, largado a meio e agora sem possibilidade de continuação, sou o corpo perdido de uma alma em fuga, um circo sem cor.
Deixa-me rir.
Sou eu e procuro em tudo o que não posso, porque posso tão pouco que se torna mais facil sofrer por não conseguir, procurar é uma tarefa impossivel e de repente dou por mim a pensar como será possivel estar ainda aqui, onde me levas vento?
Queria tanto poder voltar, voltar a ter, voltar a ser, voltar a querer, não quero voltar atrás, não, não é isso, o caminho é o mesmo, quero apenas de volta a minha inocência aquela que não vive mais entre nós.
E agora.
Espero por ti, os olhos não fecham e no chão está aquele novelo sem rosto, apetece-me deita-lo fora, para que serve, sou apenas a magoa que o carrega. Hoje não voltaste, as minhas lagrimas criam um pântano e sei que é facil de cair nele, de ser sugado por ele, desculpa.
Sou o mesmo que no principio, a diferença é que não tenho uma vida para continuar, tenho apenas isto, e queria tanto poder voltar a construir algo...

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