Chorava, sentado no passeio de frente ao jardim. No chão formava-se uma pequena corrente de dúvida e angústia.
No jardim estava uma criança que brincava com um pequeno pedaço de madeira que arrancára de uma árvore. Empunhava-o como se de uma espada se tratasse, com ele combatia os seus inimigos, fantasmas do seu mundo de fantasia. Eles caiam, um por um, levantando uma nuvem de pó ao embaterem no chão, inanimados, a morte espalhava-se pelo chão, pelas mãos de uma criança.
Sentado, ali, pensava que aos olhos daquela criança nada é definitivo, porque a morte daqueles fantasmas era um acontecimento ciclico, amanha voltarão a encontrar-se todos ali para uma nova batalha.
Sentado num dos bancos do jardim está um rapaz, nas mãos segura uma flor, olha o relogio como se esperasse que algo se materializasse do pequeno mecanismo que o faz mover. Aninhado a seus pés encontra-se um dos fantasmas, ferido, estende a mão ao rapaz como se lhe pedisse ajuda.
Naquele jardim de fantasia existem camadas de realidade, como peliculas de vários filmes sobrepostas e expostas á luz do projector, mistura confusa de imagens, que em comum só têm o facto de serem projectadas no mesmo espaço fisico. Ás vezes torna-se dificil de perceber a qual dessas peliculas pertencemos, e parar para tentar perceber é expor a fita demasiado tempo á luz intensa que projecta a nossa sombra no mundo e quando olhamos para ela não mais somos que cinzas.
Um olhar perdido caminha por entre os destroços do campo de batalha, procura alguem no meio de todos aqueles corpos inertes, mas caminha por entre eles como se não existissem. O olhar do rapaz ao desviar-se do relogio cruza-se com aquele olhar perdido que vagueia pelo jardim. Procurar não é sentarmo-nos num banco de jardim á espera que o tempo traga até nossos pés aquilo que queremos.
O olhar perdido chega-se á criança, que desfere o ultimo golpe, sobre o ultimo fantasma ainda vivo, e sussura-lhe ao ouvido -Por hoje já chega.
Ali sentado não percebe quem ganhou, quem perdeu, quem encontrou, ou quem esqueceu. Nada existe até que lhe decidimos tocar. Ali sentado apetece-lhe desaparecer.
domingo, 15 de junho de 2008
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5 comentários:
Eu acho que as crianças não têm a percepção da morte. Lembro-me que há uns meses atrás tive uma conversa muito filosófica com o meu primo mais novo sobre um tema semelhante e ele disse-me que não fazia mal matar o boneco lá do jogo que ele estava a jogar porque o boneco depois voltava. Para ele a morte é como nos jogos, matas uma formiga, ela desaparece e no dia seguinte está lá outra vez. É um ciclo. Ele também ainda não lidou com a morte de ninguém próximo, e ainda bem, mas talvez por isso ainda viva essa ideia.
De qualquer forma lembro-me muito bem de não ter compreendido à primeira quando as minhas avós morreram. Lembro-me de ter passado as primeiras semanas sempre à espera que a minha avó voltasse a casa como se a morte fosse só o final de um ciclo ou o inicio de uma nova fase. Mas o que é certo é que ela não voltou e um mês depois também perdi a outra. Apesar disso a ideia de morte só se formou em mim mais tarde.
Quando somos crianças temos a noção da invencibilidade, o mundo é feito à nossa medida.
E é claro que procurar não é isso mas procurar é uma actividade que exige muita paciência e muito controlo. Às vezes queremos tanto uma coisa que nem sabemos se existe que desesperamos na procura. Outras vezes desistimos. E também não nos podemos esquecer de que às vezes queremos coisas absurdas ou queremos só por querer. É um querer vazio, sem sentido. Quando assim é até podemos chegar a algo mas nunca nos vamos sentir como se tivessemos encontrado algo que queríamos muito. Por isso talvez o caminho certo esteja entre o procurar desesperadamente e o estar sentado num banco de jardim. Esse equilíbrio sim, é capaz de nos levar a qualquer lado.
Um dia destes tens de me dizer o que é que fazes para escrever assim :)
Hoje é bioestatistica, sim :| Gostava tanto de conseguir fazer alguma coisa de jeito amanhã no exame mas sinceramente não me parece :\ Ainda por cima as 5 da tarde devo estar extremamente inspirada.
E tu como estás? Estás melhorzinho?
Espero que sim.
Tem um bom domingo :)
beijinho**
Os olhos são um bocadinho dificeis de tratar e por aplicação externa as pomadas são mesmo das coisas que mais resistem às lagrimas e tudo isso. Eu sei que é um bocadinho desconfortável, quando eu era pequena era muito amiga de infecções nos olhos (e amigdalites também :x ), mas é um mal necessário e se está a resultar então ainda melhor. Lembro-me tão bem de uma vez em que tive um conjuntivite algo estranha e tinha de pôr uma pomada amarela antes de ir para a cama e depois acordava com os olhos colados que também é uma coisa muito fofinha :\
Mas não te preocupes que daqui a uns anos a industria farmaceutica já deve ter criado algo revolucionario para a coisa. Quando vivermos num mundo de vidro ou qualquer outro material do género vão se criar umas câmaras de gás onde são administrados antibioticos e assim. Depois uma pessoa vai lá de 6 em 6 horas e fica curada sem qualquer tipo de incómodos ou desconfortos. Isto é uma visão um bocado sci-fi mas...
Então e para além da parte física está tudo bem?
Eu acho que tu escreves muito bem. Eu já te disse isto várias vezes, tens uma capacidade incrível de brincar com as palavras e de transmitir coisas com elas. Sinceramente é umas das coisas que admiro em ti porque acho louvável conseguir dizer tanto e transmitir tanto com coisas tão pequenas e sem vida como as palavras. Não sei, as palavras quando saem de mim são só palavras, parece que não têm um chão onde cair, não tem sentido e em ti é tão diferente.
À bocado esqueci-me de dizer que aquela música me causa sempre arrepios. Não me lembro de uma única vez em que a tenha ouvido e me tenha sentido indiferente. E tenho pena porque sei que nem que eu corra a tour toda deles a vou conseguir ouvir com o Trent ali à minha frente.
Também gosto de ti :)
beijinho*
É uma ideia assustadora, claro que sim mas será que o mundo de vidro não o é também?
Até é uma coisa um bocadinho dificil de acontecer. Não sei, tenho ideia de que ele nunca tocou aquela música em nenhum concerto e também não me parece que o vá começar a fazer agora. Eu bem que tive esperança no ano passado mas pronto, não aconteceu.
Espero que a tarde tenha corrido bem. Tu devias descansar o olho e ler também não me parece que seja algo muito saudável para quem não pode fazer grandes esforços com a vista :x
beijinho*
Talvez tenhas razão. Eu tenho grande facilidade em me perder nas coisas e talvez por isso acabe por evitar olhar o que me rodeia. Às vezes parece que tenho medo de me deixar levar pelas coisas, há dias em que isso é demasiado fácil.
Hoje acho que foi um bocadinho assim. Nunca sentiste a dificuldade de estar em algo mas ao mesmo tempo não fazer parte? Eu tenho-me sentido um bocado assim aqui em casa talvez porque tenho demasiadas preocupações no momento mas não sei, hoje que precisava de fugir de tudo isto deixei-me absorver e fiquei presa não sei bem onde. Não percebo como é que estas coisas têm tanto efeito em mim.
Por acaso até me apetecia ir dar uma voltinha mas ainda tenho algumas coisas para estudar. É pena porque hoje sabia mesmo bem um abraço teu.
Espero que tenha corrido tudo bem com o teu dia, que a voltinha tenha sido agradável e que a noite também o seja.
beijinho*
O Memorial do Convento é um livro muito bonito. É estranho eu dizer isto porque provavelmente não o teria lido se não fizesse parte do programa do 12º ano. Era um daqueles livros que estava para ali à espera que eu pegasse nele e a verdade é que já o tinha feito algumas vezes apesar de não ter tido grande sucesso na coisa. Acho que é um livro que custa começar mas que depois cresce em nós. Não sei, eu gostei bastante de o ler.
Eu sei que me escondo atrás das coisas, tenho plena consciência disso. Não sei porque é que o faço mas essa é daquelas coisas que eu espero aprender com o tempo.
Hoje foi um dia dificil, o ambiente aqui em casa já teve melhores dias e, apesar de eu não perceber bem porquê, isso tem um efeito devastador em mim apesar de não estar directamente relacionado comigo. Se juntar a isso algumas preocupações que ultimamente me têm atormentado, o conjunto é capaz de justificar o meu actual estado assim mais para o cinzento. Mas isto passa, eu também ando cansada e isso provavelmente também explica toda esta fragilidade que me tem rodeado.
Mas eu tambem me preocupo contigo e também quero muito que te sintas bem e que estejas feliz. Às vezes sinto-me pequenina e não me acho capaz de muita coisa mas eu estou aqui para ti, para o que for preciso.
Tem uma boa noite e que o dia de amanhã seja bonzinho. Espero que amanhã o teu olho já esteja totalmente recuperado.
beijinho*
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