sexta-feira, 4 de abril de 2008

Um rio. Há uma altura das nossas vidas em que somos arrancados da nossa pequena poça de água e atirados ao rio. A principio, desconhecedores do que nos aconteceu, somos arrastados pela corrente sem oferecer qualquer resistência, é novo e até é engraçado. Depois durante a viagem rio abaixo aparecem os primeiros troncos que na sua superficie flutuam , neles batemos violentamente, ficamos inconscientes, sem saber muito bem o que nos aconteceu, sem perceber o porque deles se encontrarem ali, com o tempo habituamo-nos ao facto de eles ali estarem e vamos tentando por qualquer meio desviarmo-nos deles. Ao nosso lado outros como nos são arrastados tambem, sem nos apercebermos um deles, para evitar embater nele, empurra para cima de nós um dos troncos que no rio flutuam, espantados desviamo-nos rapidamente tentando-o evitar tambem, olhamos para o outro lado para seguir o seu trajecto e vimos alguem ser esmagado por ele. Esquecemos. De repente alguem nos avisa e nos livra de num outro embatermos, olhamos para a sua acção e pensamos que secalhar não vale tudo e que há coisas mais importantes e maiores do que nós. Pelo caminho vamos percebendo que há quem lute contra a força da corrente, que se tente, com toda a sua força, segurar á margem, não percebemos o porquê, algo bate em nós, olhamos em volta, confusos, não avistamos nenhum dos troncos, só encontramos alguem que fixa o seu olhar no nosso e ri. Estamos perdidos. Tentamos com todas as nossas forças nadar para a margem, esgotados agarramos um ramo que nela se encontra, sentimos pela primeira vez, desde que para o rio fomos atirados, a segurança que conheçemos na nossa pequena poça de água. Levado pela corrente passa algo que queremos muito agarrar, esticamos um dos nossos braços e conseguimos agarrar nele, lutamos para não largar, mas as forças esgotam-se e temos de escolher, ou largamos, ou por ele somos arrastados. Largamos, depois arrependemo-nos de o ter feito, mas é tarde demais a corrente já o levou. Uma lágrima cai lentamente pela nossa face, depois cai no rio e disolve-se nos milhares de outras lágrimas que nele se encontram.

Depois?

Depois chega sempre aquele momento em que temos de decidir o que queremos. Ou lutamos para sempre contra a corrente, ou deixamo-nos engolir por ela....



We can save this ill-fated race
Who are lost in the ocean of space
Show them the way to reverse their decline
Guide them back on the river of time.

River of Time - Ayeron

2 comentários:

M ♑ disse...

Não era pensar em nada. Era pensar no nada. O nada do dia a dia, o nada que me rodeia and so on.

De qualquer forma isso de sermos o que decidimos ser não é assim tão linear. É claro que podemos sempre mudar mas quando não se sabe o que se quer e principalmente não se sabe o que se é torna-se complicado. Mas isso também não interessa.

Gostei bastante do que escreveste. Tens jeito para as palavras e consegues organizar bem as ideias. Para além disso, quem é que nunca sentiu algo assim?

:*

Adinatha Kafka disse...

Pois...não acho que a vida seja uma poça,mas sim mesmo um rio. ..