terça-feira, 29 de julho de 2008

continuar, o caminho estende-se e nele os meus pés feridos têm dificuldade em continuar. é assim porque um dia eles, os meus pés, se fizeram a ele, e agora, no meio deste, tanto faz se quero voltar atrás ou continuar em frente, isso é apenas uma questão de direcção, sim porque o sentido não é para aqui chamado. ás vezes penso que estou a caminhar num daqueles becos sem saida e de sentido unico, daqueles onde se entra e já não há volta a dar, mas não estou, de facto não estou, os meus calcanhares é que perderam a capacidade de rodar sobre eles mesmos, e as paredes das casas neste beco onde não me encontro estão tão juntas que de uma janela de uma casa seria capaz de beijar a tua face quando na janela da casa em frente aparececes, mas não apareces, as janelas continuam todas fechadas, e o ar, neste beco, torna-se assim irrespiravel, como se todo o ar puro estivesse encerrado dentro das casas que o cingem. olho para a janela onde não te encontras, nela vejo o reflexo do meu rosto, e pelo vidro desliza uma gota de água que desaparece ao encontrar o limite do vidro, é assim que somos tambem, quando atingimos o limite desaparecemos, evaporamos como a agua, ou então percebemos que somos, tambem nós, apenas mais um reflexo. o ideal seria não ser sendo, mas o ideal não existe, existe apenas a busca por ele, e agora cheguei aqui a este som baixinho que me diz: agora podes dormir um pouco.

e tu, onde estás?

2 comentários:

Adinatha Kafka disse...

O silêncio é daquelas coisas que só se aguentam se partilhado...
Ceder...ceder é o começo do partir; e há na minha vida algo a chegar a esse ponto e eu e começo a sentir-me assustada...

*

M ♑ disse...

Não sei se não será natural essa ideia de estar a caminhar num beco sem saída. Na maior parte das vezes partimos para algo com vontade mas a verdade é que a caminhada às vezes é mais longa do que parecia inicialmente e a dada altura encontramo-nos muito longe de qualquer uma das margens e com os pés tão cansados que se torna complicado dar um passo que seja. É impensável voltar atrás depois de tudo o que já andámos mas o fim, o local de chegada onde podemos descansar também não está à vista. O que fazer então? Acho que não há uma alternativa correcta, podemos continuar, seguir balançando dormentes com o movimento, podemos parar, podemos desistir, não sei. Há demasiadas alternativas e não se se apenas uma será a correcta. O que eu sei é que não nos podemos deixar levar pela dor, pelo aperto no peito porque se temos objectivos temos de lutar por eles mesmo quando não conseguimos ver o caminho que está à frente. E é difícil ter a força quando nos sentimos a sufocar mas devemos ter sempre presente que uma janela não está sempre fechada e que podemos sempre abri-la e encontrar aquilo que queremos. Basta para isso acreditar que temos força e que somos capazes de alcançar o que desejamos. E talvez isso seja difícil de ter sempre presente mas acho que vale muito a pena fazer um esforço.

beijinho*