quinta-feira, 22 de maio de 2008

Talvez seja a incapacidade de sonhar para alem do sonho, seja apenas a delicada mão que nos agarra quando a realidade se assoma. Não sei quem puxa este cordel, este aqui, que neste momento me tenta extrair o estômago pela boca. Será possivel? Não o estômago sair por lá.
Como é que se faz quando não se sabe fazer? -Estás a ver ali aquela flor. - Aquela ali ao lado daquela arvore? - Sim essa, para mim ela és tu. E a arvore. E o ceu. Estás a ver ali aquela nuvem? - Aquela nuvem negra ali? -Sim essa, essa sou eu a lutar com todas as minhas forças para não chover. -Mas quem é que puxa esse cordel?
-Não sei
Mas como é que pode ser? Uma ferida que sangra é apenas a parte visivel da dor. Fecha os olhos e da-me a tua mão, conta até tres, e dá o passo, aquela passo. -Mas o que se passa? -Não sei, não sei, não sei.
-Olha está a chover. - Pois as minhas forças não são assim tantas. Talvez possa apanhar todas as gotas.
- Ou então deixa apenas a ferida sarar.
Apenas, que palavra cruel que torna em algo tão desprezivel o sangue que não me corre de ferida alguma. Talvez seja apenas a incapacidade de viver, apenas, como se todas as feridas podessem um dia sarar.

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